O texto do Perplexo: Link AQUI:
Sedução
Ajeitou-se melhor no banco. A visão da mulher à sua frente merecia um movimento do corpo.
Olhou primeiro de relance. Viu que ela notou o olhar certeiro, até se mexeu deixando à mostra um naco das coxas. Pernas bonitas, longas e bem torneadas. Nenhuma marca, mancha ou cicatriz à vista, não que ele tenha notado.
A viagem seguia monótona, como as de todas as manhãs. O serviço no escritório não lhe despertava o interesse. Carregava o fardo como um camelo no deserto. Isso, um camelo explicava bem.
À sua frente, Izadora disfarçava. Fingia que lia o jornal dobrado em quatro. Pensamento longe. O olhar devorador do companheiro de viagem logo ali à frente não lhe incomodava nem um pouco. Por quê não facilitar e mostrar um pouco o que ele se esforçava tanto para ver? Homens são assim, visuais, ela pensou. Precisam ver antes de tocar. Uma calcinha vista de relance, como se não fosse de propósito fazia a imaginação voar, ela sabia disso. Aprendera com eles.
Corta. O pensamento agora voa.
Tinha dezesseis anos, usava saias curtíssimas. Leandro, o mais ousado dos colegas, sempre dava um jeito de ficar num lugar onde pudesse espiar suas coxas. Ela sabia disso e não procurava evitar. Um dia ele não agüentou. Aproximou-se e sem muito pudor subiu-lhe a mão às coxas. O palmo de saia que usava não impediu que um dedo dele resvala-se a calcinha de renda.
Deu um tapa na mão ousada e saiu de perto. Caminhou ao toilette. Estava molhada. Sensação melhor nunca mais sentira.
De volta ao ônibus modorrento percebe o estrago que faz no passageiro solitário. Acho que ele vislumbrou a calcinha. Olhos fixos, respiração presa. O ar ambiente está carregado de eletricidade estática. Seria a tão falada química que atrai os amantes?
Izadora não saberia. O passageiro anônimo levantou-se. Passou bem perto dela para dirigir-se à porta de saída. Ela notou o volume nas calças dele.
Homens são tão bobos, ela pensou. Fixou o olhar na notícia que lia desinteressada.
Ficou um vazio dentro do ônibus. Como se todos os outros passageiros não contassem.
Puxou a saia um pouco mais para baixo como a esconder o mistério que carregava. Um segredo a ser revelado a poucos.
Nota: este conto eu dedico à GEÓRGIA do SAIA JUSTA. (o blog faz aniversário, hoje)
Esta foi a homenagem que o Valter Ferraz, pai, esposo da Aninha Pontes, avô, escritor e muitas outras coisas que certamente ele é, fez ao saia Justa no dia 11 de setembro.
Muito obrigada pelo carinho. Adorei o conto. E quem sabe ele entra lá no Edu no Varal de Quem escreve um conto aumenta um ponto... Viu Edu,rs.
Um grande abraco e boa semana a todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário