Eu tenho a mania de acordar e olhar imediatamente através da porta do nosso quarto a janela que temos no corredor. É que assim eu já tenho uma idéia de como está o tempo lá fora.
Há sete anos atrás quando nos mudamos para cá eu ficava um tempao olhando todo o movimento da nossa rua por ela. O Daniel só tinha um aninho. Certo dia acordei com o barulho da chuva. Chovia forte. Me lembrei do homem que eu sempre via todas as manhas através da janela. Corri para ver se ele tinha um guarda-chuva. Nada. Lá estava ele ficando molhado. Troquei de roupa o mais rápido que pude, desci às escadas e passei mao num dos guarda-chuvas que temos. Quando fiquei frente a frente com este homem, disse-lhe: Hoje chove muito, nao é? Ele sorriu e me disse um sim. - Tenho aqui um guarda-chuva para o senhor.
Ele ficou me olhando assim como que paralizado. Eu disse:- Pega.
Ele o pegou, me agradeceu e eu voltei para dentro.
Ontem ao levar o Daniel para a escola ele me perguntou: -Mamae, porque é que você todos os dias dá bom dia para este homem que fica esperando o amigo dele vir apanhá-lo de carro para o trabalho? Eu nunca o vi aqui em casa, ele é nosso amigo? Eu contei ao Daniel essa história. E lhe contei que quem vem buscá-lo nao é um amigo e sim o genro dele.
Expliquei ao Daniel que fiz exatamente o que eu gostaria que me fizessem se eu estivesse numa situacao dessas.
Desde o dia em que lhe dei o guarda-chuva, esse homem, totalmente desconhecido me cumprimenta, acena com a mao e me dá um bom dia que eu nem mesmo escuto, mas leio os seus lábios.
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