Você faz toda a diferenca!

domingo, 25 de setembro de 2011

Como falar à crianca sobre morte e enterro?


Olá meus amigos. Quero agradecer toda a forma de carinho que vocês nos expressaram. Muito obrigada. Chegamos hoje do Sul da Alemanha e vou visitá-los no decorrer da semana.
Partindo da minha experiência com meus filhos quero dividir com vocês desde a notícia de morte da avó das criancas até a hora do enterro.
Como o quadro da minha sogra era bem grave, decidimos que somente o Christian voaria para lá, pois de última hora nós nao iríamos conseguir 4 lugares no vôo. Quando a notícia chegou eu estava sozinha em casa com as criancas. Entao decidi contar primeiro para o Daniel e mais tarde para a Viviane, pois eu nao queria ter os 2 ao mesmo tempo chorando e eu sozinha tendo que consolar os dois. Levei a Vivi para a casa da amiguinha e conversei com o Daniel de que a vovó dele estava muito ruim e que por causa disso o papai teve que voar para lá. Ai eu disse que desta vez ela nao tinha conseguido mais lutar contra a doenca. Ele ficou em silencio por uns minutos, que para mim foram eternos e depois ele disse:
- Melhor assim mamae, ela estava sofrendo muito. Ela lutou muito contra a doenca.


Eu o abracei e eu comecei a chorar pela atitude dele. Mas ele nao chorou.
Mais tarde quando a Viviane chegou, eu falei que queria conversar com ela algo muito sério e ai ela ouviu a nótícia e me perguntou:
- Mae, o que significa "morreu"?
- Significa filha que a gente só vai ver a vovó através das fotos que fizemos dela, que pessoalmente nós nao a veremos mais e nem poderemos mais conversar com ela quando formos para a casa do vovô.
E ai ela chorou alto e estridente como eu nunca tinha visto e ouvido e eu me agüentei o quanto eu pude. A coloquei no colo, a abracei, nao disse mais nada, deixei-a chorar. Quando eu achei que era suficiente, entao disse a ela:
- Agora basta filha. A gente chora sim, porque ficamos tristes, mas também precisamos parar de chorar. Que tal irmos à cidade agora?
E entao o assunto foi meio desconversado embora todo o percurso ela só falava nisso.
À noite os 2 dormiram comigo na cama e ela acordou 3 vezes assustada, gritando no meio da noite.

Partindo disso, fiquei imaginando como seria na hora do enterro? Entao comecei a pensar em como amenizar aquele momento tanto para meus filhos quanto para a priminha que vivia lá do ladinho da minha sogra. Para a priminha da Viviane com certeza estava sendo muito mais difícil.
Entao comprei esse camafeu de coracao. Trabalhei as fotos para diminuí-las e elas ficaram emocionadas quando abriram os coracoezinhos e viram a foto da vovó lá dentro e a delas também. Durante a cerimônia, elas os trouxeram pendurados e seguravam o coracaozinho nas maos.

Elas também providenciaram um desenho em forma de cartinha. E minha cunhada providenciou um balao onde amarramos a cartinha e que foi solto, subindo ao céu. Esse efeito fez muito bem a todos nós.
O Daniel foi ao microfone e contou o que a avó significa para ele e a Viviane contou que com a avó ela aprendeu a pentear os cabelos antes de dormir. Que isso ela nunca iria esquecer.


Durante a cerimonia e na hora do enterro quando elas choraram, eu levei na bolsa uma caixinha com coracoezinhos de chocolates, e os dei a elas. Pois, pensei que mesmo na dor, se pode ter uma lembranca adocicada...

Aqui na Alemanha é costume que após o enterro eles vao para um restaurante para tomar um café juntos e conversarmos com os parentes. Entao eu preparei um álbum com fotos da minha sogra desde quando eu cheguei aqui na Alemanha e várias fases dela com a família. E isso foi um consolo muito bom para os parentes. Assim conversamos, tivemos assuntos, ficamos tao descontraídos que até sorrimos com algumas lembrancas.
Minha foto com ela na Basiléia (Suica) 1993, quando vim à Alemanha pela primeira vez.

A história do balao vermelho, clique AQUI.

Ao preparar este post, dei uma pesquisada na internet e achei um link muito bom falando sobre o assunto. Caso você queira dar uma olhadinha clique AQUI e AQUI.

Atenção: É expressamente proibido a cópia deste texto e imagens sem a autorização prévia do autor.

28 comentários:

Joaninha Bacana disse...

Linda a maneira que você encontrou de explicar e consolar as criancas. Sinto muito pela perda da Oma :-( A minha Oma paterna faleceu quando eu tinha 12 anos, e ainda hoje penso nela com muito carinho e saudade :-(
Grande beijo, e sinto muito pela perda de vocês :-(
Angie

Bergilde disse...

Georgia,
Meu abraço,carinho e admiração!
Falar de morte principalmente para crianças é sempre algo muito delicado,mas você demonstrou muita lucidez e sensibilidade na experiência vivída em família.
Mais uma vez meus sentimentos para vocês aí!

Elvira disse...

Oi Georgia.

Achei muito bonita a forma como você conversou e consolou seus filhos.
Você é muito sensilvel e eu admiro muito isso.

Muitos beijos.
Elvira

chica disse...

São momentos doloridos e que infelizmente as crianças devem enfrentar. Pena! Mas tu foste maravilhosa também nessa hora! um beijo,fiquem todos bem,chica

Tucha disse...

As despedidas sao sempre momnentos dificeis para todos nos em especial para as criancas. A proximidade da familia e os lacos que permanecem ajudam a prosseguir. Um abraco carinhoso para voces

Anônimo disse...

Georgia,
Voce é um exemplo de mae/ educadora. Muito lindo o que voce preparou para seus filhos. Uma perda de uma avó é uma coisa bem grande. As crianças entram em luto, a Viviane externalizou bastante, teu menino foi mais reservado. De toda forma voce soube conduzir tao bem a situaçao, e essa servir de exemplo para muitas pessoas com crianças que ainda vao passar por isso.
Muito bacana o teu carinho, capricho e esmero ate nessa hora.
So posso te dar parabens embora nao seja muito apropriado, mas é. E dizer novamente que sinto muito por voces, por essa perda dolorosa.
Um beijo,
P.

Milena F. disse...

Sinto muito por essa perda de uma pessoa proxima. Eh sempre muito dificil tocar nesse assunto com crianças, na verdade não existe formulas certas, mas o seu exemplo foi muito enriquecedor!

João Menéres disse...

És incrível, GEORGIA !
Tens SEMPRE a palavra, o gesto certo para o momento.

ADMIRO-TE MUITO !

Um beijo.

Georgia disse...

Não encontraria um jeito melhor de como vc fez para amenizar um pouco a dor...
Que tudo fique bem por aí, bju.

Eliane Pechim disse...

Que triste! Mas também acho que ser sincera com a criança, sem firulas, sem subestimar a inteligência e capacidade de entendimento/discernimento delas é o melhor jeito de dar uma notícia dessas. Vai doer? Vai e elas têm de entender isso. Dá para falar com cuidado, jeito, delicadeza, mas a dor vai estar lá e precisa ser vivenciada. A gente precisa aprender desde cedo a lidar com perdas e com nosso luto, porque cedo ou tarde todos nós passaremos por ele. Muito madura a forma como você deu a notícia a seus pequenos. Um beijo e fica bem!

Bia disse...

Ai Ge, me cortou o coração ler sobre como a Vivi reagiu, mas sendo ela pequena é mais complicado de entender. Já o Daniel me surpreendeu.. e até achei curiosa a reação dele, pq quando perdi meu avô, meu irmão mais novo na época tinha mais ou menos a mesma idade do Daniel e ele praticamente reagiu da mesma forma. Bem racional.

Muita forças para vcs. bjo

Lúcia Soares disse...

Georgia, se eu daqui, sem conhcer sua sogra e seus filhos, senti um dor grande, imagino o que não estão sentindo!
Você é muito doce, sensata, coração e razão.
Beijo nas suas crianças e que elas se consolem sabendo que tiverem uma mulher especial como avó. O tempo de convívio pode ter sido pouco, mas foi o suficiente para sempre.
Lindo a Viviane já ter doces lembranças do que a avó lhe ensinou.

Lúcia Soares disse...

A frase saiu trocada, quis dizer que não imagino o que eles estão sentindo). Beijo!

Ivana disse...

Gê, só vc, assim com muito amor pra trazer doçura à um momento triste como este...
Beijo.

Beth/Lilás disse...

Querida Geórgia!
Você, como sempre, tem uma postura exemplar, uma mãe dedicada e que pensa adiante como agir. Meus parabéns!
Foi um momento difícil, mas amenizou-se com todo este aparato que você fez para acarinhá-los. Eles terão, realmente, uma doce lembrança da querida avó.
Cuida do teu Christian que deve estar muito pra baixo com esta perda.
E força, continue assim, garotinha, admiro-a desde sempre!
um abraço e beijo cariocas

Vanessa Anacleto disse...

Georgia, esse é um assunto difícil mesmo. Crianças assimilam melhor as coisas que nós na maioria das vezes. Em questão de 6 meses , perdi avô e pai qdo estava entre 6 e 7 anos. Meu filho ainda não perdeu ninguém da família mas tive que falar que o meu pai está morando no céu quando ele me perguntou porque não conhece o outro avô. " ainda bem que meu pai está no chão" foi a resposta do Ernesto.
Há quase dois meses o professor de ed fisica dele faleceu, um rapaz muito jovem morreu de pneumonia em questão de dias. As famílias não tiveram coragem de contar exceto os pais de um amiguinho dele que conseguiram explicar ao filho. Eu tentei mas não consegui fazê-lo compreender pq na cabecinha dele , o professor estava doente e voltaria no outro ano. Achei melhor não insistir pois não se tratava de uma pessoa próxima demais e que teria impacto sobre toda sua vida. Mas já fico pensando em como será qdo alguém muito importante se for, os avò paternos tem 90 e 82 anos e minha mãe é a mais menina com 68. É da vida mas é complicado.

beijo e força pra vcs, um abraço ao seu marido.

Pedrita disse...

é realmente um assunto difícil, mas não acho que deva-se esconder. eu perdi minha avó qd tinha 7 anos, então eu e minha irmã não fomos nem no velório nem no enterro. eu lembro q fiquei muito triste, era muito apegada a minha avó. mas teria ficado magoada se meus pais tivessem escondido a verdade. sempre ouvi que os rituais do luto ajudam. fez bem fazer isso com os seus filhos. beijos, pedrita

Regina Coeli Carvalho disse...

Olá querida,
Deixando meu carinho pelo momento vivenciado por vocês.
Carinhosa forma de falar para os pequeninos sobre a morte.
Minha filha conviveu mais de perto com o sofrimento da minha mãe e quando ela faleceu deixei que escolhesse se queria ou não ir ao velório.
Ela esteve lá por algum tempo e não quis acompanhar o enterro.
Um ano após perdeu dois tios e no outro ano o avô paterno e meu irmão.
Sofrimento vivenciado com mais maturidade.
Sou favorável que a verdade sempre seja dita a criança. As pessoas que falam da morte como algo proibido, escondem das crianças, causam muito mais sofrimento quando elas, mais tarde, se deparam com a perda de entes queridos.
Meu afeto procês.

Roberta de Souza disse...

É querida. Estamos passando por isso aqui também...
Minha tia faleceu e ela criava uma das netas... Está difícil, mas vamos juntos lutando...

bj
Beta

Bel disse...

Estou aqui chorando... e imaginando como você teve tanta "cabeça" e tanto "coração" pra tudo isso, amiga. Por favor, compre alguns camafeus desses pra mim (preciso saber o preço) pois me vejo muito próxima de necessitar deles. Gostei muito também da idéia da cartinha subindo ao céu... Que emoção!
Deus continue a consolar os corações de vocês todos.
Bjooo

Ma disse...

Venho de vez em quando aqui, mas nem sei se alguma vez já comentei. Fiquei emocionada com seu post, imaginando que um dia vou ter que passar por isso, afinal pela ordem natural da vida os avós irão primeiro. Me dói só de pensar na dor das minhas filhas. Mas temos que ser fortes por eles tb e fazer com que as lembranças sempre sejam motivo de saudade, mas não de tristeza. Meus sentimentos pela sua perda. Abraço, Marcela (www.seguindoahistoria.blogspot.com)

Gaspar de Jesus disse...

Boa noite Georgia
Vim agradecer a sua visita ao Arte Fotográfica, bem como o seu cuidado.
Nós estamos bem felizmente.
Adorei esta sua LIÇÃO DE VIDA!
Dizer que a admiro muito enquanto mulher e mãe, seria repetir-me mais uma vez, mas posso afirmar que, sempre que lhe bato à porta saio mais "rico" do que entro.
Beijinhos para si e para as crianças.
Especial abraço para o marido.
Gaspar de Jesus

Fatima Cristina disse...

Oi Georgia,
Me emocionei ao lerr o seu post. Você nos dá um exemplo de amor através da dor.
Beijos!

Li Ferreira Nhan disse...

Geórgia,
emocionante tudo o que eu li aqui...

Olha, você uma grande mulher!
um beijo

rose disse...

Georgia, fiquei com lagrimas nos olhos ao ler este post. Muita maturidade, sensibilidade e delicadeza sua nessa hora tao dolorida pra voce tambem.
Muita forca e luz no coracao a todos voces e parentes que estao passando essa fase. bjos iluminados

Menina no Sotão disse...

Eu sempre achei estranho a forma como se trata a morte porque se fala tanto da vida e nada acerca da morte. Em casa os assuntos sempre estiveram em pauta. Lembro quando meu cão morreu - já velhinho. Ele olhou pra mim e deixou a cabeça cair. Minha mamma me disse "o inverno chegou primeiro pra ele". E eu achei aquilo lindo. As estações do ano ligadas as fases da vida. Passei a ver a idade de minha mamma como sendo o outono, minha estação favorita.
Era tudo muito simples, mas ela nunca me levou a velórios, enterros e nunca vi uma pessoa morta. Ela dizia que não era poético e que não acrescentaria nada a minha existência e eu ainda hoje acredito nisso. Ela me contou que os elefantes quando sentem que vão morrer (e eu achei isso lindo) se afastam do bando para que os demais não tenham contato com o a morte.
Enfim, a vida e a morte são elos de uma mesma corrente. bacio e muitas lembranças adocicadas para todos vocês aí.

Perfeita Beleza disse...

Nossa foi bem legal a sua ideia da cartinha, acho que não saberia conversar com os meus filhos sobre esse assunto.

Beijos

Conheça meus blogs:

perfeitabeleza.blogspot.com
borboletandotendencias.blogspot.com

Cristina Caetano disse...

Oi, amiga, soube por email e mais uma vez meus sentimentos.

Acho que tudo o que você fez pode ter contribuído para o acontecimento ter sido o menos traumático possível. Eu não lido bem com a morte, acho que ninguém lida. Eu era muito pequena quando perdi as duas pessoas que eu mais amava, meu avô e minha prima (que era muito mais velha que eu e me carregava pra todos os lados: cinema, teatro, enfim...) Eu era tão pequena que semana passada, numa reunião em família, uma de minhas tias se impressionou por eu me lembrar dessa minha prima, e me lembro muito bem.

Foi tão traumático que eu decidi não mais comemorar meu aniversário com festinhas (e nem sei que relação punitiva eu criei pra ter essa idéia)e só voltei a comemorá-lo já adulta. Mas até hoje, apesar de considerar a maior comemoração à vida, ainda me sinto desconfortável e acabo saindo porque amigas insistem.

Acho que daqui há um uns aninhos, você deveria conversar de novo com as crianças, principalmente com Vivi... sei lá, a nossa mente cria coisas que os pais nem sempre percebem. E foi por isso que resolvi contar minha estória com a morte de parentes queridos.

Beijão